Você torce o nariz quando ouve
falar de musicais? Acha que são firulas, paetês e piruetas? Que de forma alguma
pode acrescentar mais na sua vida além de achar colorido, bonitinho e no máximo
“Olha como a orquestra é bonita”. Reveja seus conceitos, “parça”. Posso ter a
visão um pouco enviesada a favor desse gênero teatral, mas vou analisar uma
parte que, por puro lag meu eu só
reparei, só tive o insight
recentemente. Você já reparou como as letras das músicas dos musicais querem
dizer MUITO MAIS do que realmente parecem?
Vou comentar sobre Rent, Avenida
Q e mesmo Wicked, que representa um pouco dos clássicos e mostra que por trás
da história da Dorothy e do Totó tem muito mais embaixo do tapete.
Rent. Já ouviu falar? Vejo nas mídias sociais que está começando a
aparecer uma ou outra sugestão de que haverá uma montagem em breve. Por favor,
este é um musical de 1996, mas ele não poderia ser mais atual. Seu elenco
principal tem um diretor frustrado com a carreira querendo fazer arte mas não
podendo se sustentar, uma atriz livre e bissexual que se casa com uma advogada
séria demais, um rockeiro hétero que tem AIDS e é traumatizado porque a ex
namorada se suicidou, uma dançarina de striptease
que tem uma overdose, um ex professor do MIT que também tem AIDS e um travesti
que é a pessoa mais sábia e centrada do grupo e que une e inspira a todos. E
tem o outro lá que ninguém gosta muito que é o cara que quer fazer todo mundo
pagar o aluguel e se esquece de que alguns meses antes era amigo próximo da
galera. Preciso falar mais? Talvez o assunto AIDS não esteja mais tão em
evidência quanto em 1996, mas e a representatividade? Cada letra, cada música
mostra uma cara da sociedade que não é a que é a mais vista por aí. Cada anseio,
cada dor e cada sonho. O musical mostra um ano na vida dessas pessoas e como
tudo que realmente importa é o amor entre elas.
Avenida Q. “Ah, aquele musical que tem os marionetes, né? Não é
para criança?”. Então. Não. A não ser que você julgue os temas frustração
amorosa, sexo, pornô, racismo, preconceito, desemprego como temas infantis.
Acho até justo introduzir o assunto com as crianças, mas não é esse o público
alvo, não. O musical fala do começo ao fim sobre tabus. Descaradamente.
Frustração emocional e profissional é só o plano de fundo. O detalhe. O musical
encontra de uma forma lúdica e descontraída, cheio de ironia e sarcasmo,
mostrar como as pessoas realmente são e fingem não ser e como viveríamos em um
mundo muito melhor se todo mundo assumisse seus defeitos. Exemplos dessas
letras são: “Todos são um pouco racistas” – me fala quem não é? Até as minorias
são preconceituosas com alguma outra minoria ou maioria, ou vai dizer que você
não olha um “coxinha” com camisa pólo e já pensa que só porque fala TOP vai ser
insuportável? Não é aquele preconceito extremo, mas é. Pronto, assume. Outra parte fala de como todos gostaríamos de
voltar para os anos de escola onde tudo já estava planejado, trilhado e controlado
para a gente. Mas não dá, né? E o “show”
termina com a super mensagem de que mesmo que tudo esteja um lixo, não se
preocupe, realmente tudo é passageiro. As coisas ruins e as boas também e
talvez você nunca encontre seu propósito na vida. Ah, mas é um show de marionetes NÉ?
Agora, para finalizar. Wicked. “Ah, o musical do Mágico de OZ,
né? É tão bonito”. É, é beeeeem bonito. E talvez nem um pouco polêmico quanto
os anteriores. Entretanto, para mim é o que mexe na alma, ali, onde está
escondidinho e quietinho. Cada um se identifica com algo que te causa emoções
diferentes, mas gente. Sério. O musical é sobre uma pessoa VERDE. O que
significa ser VERDE? Significa ser diferente por qualquer razão. Significa
sofrer bullying, preconceito, ser
privada de muito porque é simplesmente diferente. Tem a atriz linda, loira e
perfeita. Estereotipicamente burra. A Verde é a inteligente. Tá, e daí? E daí
que a amizade delas se torna tão importante e o que uma aprende com a outra
torna as duas melhores. Significa que dá para evoluir se houver a oportunidade.
E tem aquela coisa, a Verde se apaixona pelo namorado perfeito da Loira mas não
se acha boa o suficiente para nem poder
considerar a possibilidade dele olhar para ela. Quem não tem um probleminha de
autoestima baixa que atire a primeira pedra.
Por outro lado, a música que mais
me fez pensar e me inspirou foi a do homem lindo, perfeito e burro, que no
decorrer da peça se mostra íntegro e leal.
Ele canta uma música sobre como é bom ser burro, não pensar, não se
importar. Levar uma vida sem cobranças, sem stress e sem tentar ser algo que
não é. “A vida dói menos para quem pensa menos” Qual a sua primeira impressão?
Bom, vou te contar a minha e essa é a minha confissão hoje. No começo sempre
achei esse personagem um idiota e certa a Verde que era toda nerd e controladora, que se preocupava
com tudo e todos e em se destacar por seu intelecto. Depois de alguns anos
sofrendo de ansiedade, stress e um pânico por não ter o resto da vida planejado
eu comecei a ver a letra de “Dancing
through life” com outros olhos. Quem é mais FELIZ? Quem realmente se
aceita? Lendo de novo. “Quem pensa menos, sofre menos”.
Entenda esse pensar
como se preocupar, surtar, ficar ansioso. Obviamente que não podemos ser 100%
assim, porque a vida não deixa, temos as obrigações diárias, mas é o que todo
livro de Bem-Estar e autoajuda do século 21 prega! E o nosso primeiro
PRECONCEITO é julgar o personagem por ser muito “de boa” com a vida. Irônico
né? Ah, mas vamos lembrar que tem a Dorothy e o Totó... e é só um show bonito.
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