Ficar com alguém por só uma noite. Conquistar alguém. Saber que tem o poder. A
adrenalina da caça.
Ele se sente só. Quer sentir seu corpo vibrar, se aquecer, a
circulação acelerar e as veias pulsarem. Ele liga para os amigos: “Vamos marcar
uma caçada”.
O dia chega, as horas se passam e a ansiedade enche seu
peito. Será hoje a noite. O grupo se reúne. Todos vestindo os trajes típicos e
adequados para o meio, e será uma selva lá dentro. Cada um tem seu objeto de
sorte. Um colar, uma pulseira, um perfume. Uma camisa da sorte.
Eles chegam em um grupo. Respiram fundo. Procuram sua presa.
Ficam a espreita até fazerem contato visual. Ninguém se mexe. Um não pode
assustar o outro. Ele avista sua presa. Ela é perfeita. É tudo o que ele
deseja. Os dois se movem então no mesmo ritmo e na mesma direção. É uma dança
calculada. A caça não sabe o porquê mas se sente envolvida pelo caçador. Ele
sabe o que faz.
Ele se separa do grupo e rasteja mais próximo para ter
alcance do tiro. Passa pelos obstáculos e bebe do cantil. A boca esta seca e o
líquido lhe dá coragem. Ele mira e
dispara o tiro. Naqueles segundos que passam entre o dedo acionando o gatilho e
a reação da caça, o coração pula uma batida. O mundo para.
Ela retribui, dá a abertura necessária, é o movimento do
corpo, é o cabelo jogado, é a piscada, é a mão no pescoço fazendo charme. É a
mão dela na perna dele. Ela se inclina em sua direção. Ele saca a adaga e finca
em seu flanco. Ela se derrete e se solta. Eles se beijam e se enlaçam. Os
corpos se aquecem. A adrenalina flui entre eles e através deles.
Já não estão mais na selva. Estão em sua clareira
particular. Só existem os dois e mais ninguém. Ele a envolve, ele se esforça,
ele sua e sente as gotas acariciarem suas costas. Ela devolve e arranha a
carne.Ela também tem sede. É uma luta. Finalmente o sangue quente jorra e ele
termina sua caçada.
Ele respira fundo e sente o corpo todo vulnerável e leve.
Aquela sensação sublime. Em um segundo tudo passa. Tudo volta ao normal. Seus
músculos doem agora que a adrenalina se foi. Os braços enrijecem. As costas e
as pernas falham. Então, ele a deixa correr novamente por entre as árvores. Ela
olha para trás. Os olhares se cruzam, ela vira e continua seu destino.
Ele volta para casa. Sozinho. Seu vício pela energia e pelo
êxtase preenchido neste momento. O vazio ainda está lá. O prazer foi muito
grande desta vez. A dificuldade, os obstáculos, a incerteza. A próxima caçada
terá que ser maior. Mais desafiadora e mais incrível. Só assim ele irá...
Ele irá o que? Conseguir o que precisa? O que lhe falta? O
que ele realmente quer? O desafio.
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